sexta-feira, 3 de junho de 2011


Era uma cidadezinha do interior onde em sua praça, cartão postal do lugar, ficaram guardadas muitas histórias de amor,que lhe dava um toque de romantismo, com sua fonte luminosa que fazia bailar suas águas furta-cores e sonhar os jovens apaixonados. O clima contribuía para que ela fosse uma garota sonhadora. Nem bonita, nem feia,mas carismática,de olhar meigo e profundo. Seu grande sonho: ser bailarina e dançar,um dia,no Teatro Municipal .Dedicava grande parte de seu tempo ao ballet clássico. Aos sábados e domingos, ia à praça ou ao cinema, com as amigas. Às vezes, ao clube, onde sempre aconteciam bailes inesquecíveis. Certo dia, um burburinho veio mudar a rotina da cidade. Pelo menos a das meninas, que começaram a se enfeitar, a rir à toa e a cochichar segredinhos, umas às outras. Para o azar dos meninos, que carrancudos, não conseguiam disfarçar os ciúmes. Chegara, recentemente àquele lugar,um moço, mais precisamente um príncipe, que era o que parecia.Não levou muito tempo e muitas garotas foram flechadas pelo cupido. Para a menina bailarina, ele passou a ser um sonho inatingível, impossível. Não poderia jamais competir com as outras, lindas, bem vestidas e deliciosamente extrovertidas, realidade bem diferente da dela, pela simplicidade de se vestir, de vida e pela timidez nitidamente retratada em seu olhar.Sentia-se a própria gata borralheira. Porém, na dança, conseguia extravasar, livrar-se desse seu fardo. Nessa época preparava-se para dançar numa grande festa que estava para acontecer no clube da cidade.Havia feito muitos ensaios,sempre incansável, num pátio de sua escola,ao som de uma vitrola. Na véspera da festa, o último ensaio seria no clube e com piano.La Violetera era a música. Subiu ao palco e viu surgir o pianista. Nesse momento pensou que seu coração fosse sair pela boca. Era ele,o príncipe!Ainda mais lindo, trazendo o céu no olhar. Ambos se olharam. Ela procurou conter sua emoção e ao ouvir os primeiros acordes musicais, começou a dançar. E dançou, dançou como nunca.Parecia levitar, alcançar as estrelas,roubar-lhes seu brilho,perambular entre elas. Ao terminar ouviu aplausos. Ele a aplaudia em pé. Ela fugiu do palco e dele, pois lágrimas de emoção e encantamento rolaram por suas faces e não queria que ele as visse. Chegara o grande dia!Caracterizada como verdadeira vendedora de flores, ela carregava um cestinho dourado, repleto de buquês de violetas azuis e brancas. A cortina se abriu e as luzes dos refletores fizeram dela uma figura etérea,surreal. Ela olhou para seu amado, que lhe abriu um largo e branco sorriso,talvez de admiração,lançando-lhe seu olhar mais azul do que nunca.Era a glória! Durante a coreografia, ela desceu do palco e atirou para a platéia embevecida os buquês que carregava. Havia reservado o último para o pianista, seu príncipe. Ao voltar ao palco, colocou as violetas em cima do piano. E juntamente com elas, todo o seu amor, num gesto que simbolizava entrega total, a quem conseguisse perceber. Encontraram-se casualmente, algumas vezes, na praça e por várias vezes ele tentara falar-lhe...e ela fugia sempre.Seu desejo era o de declarar o seu imenso amor por ele, gritar ao mundo,deixar os borralhos,tornar-se Cinderela,mas sua timidez, o rubor de suas faces a impediam.Nunca havia namorado ninguém.Mas enamorara-se dele,perdidamente. Numa tarde de domingo o viu ao lado da fonte e da menina mais bonita da cidade. De mãos dadas,trocando beijos e abraços. O céu desabou...O chão se abriu.De repente se fez noite.E ela chorou copiosamente. Sentiu que o perdera, sem ao menos nunca tê-lo tido,sem ao menos um único beijo.Sua primeira desilusão amorosa.Sua primeira dor.Seu primeiro amor. Fim de um sonho de adolescente. Soubera, através de amigas, que ele havia ido embora do país,tocar piano no exterior. Continuou sua vida, dedicando-se ainda mais a sua arte:o ballet clássico.Porém,o vazio que seu primeiro amor (platônico) havia deixado jamais fora preenchido.





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